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Bife de boi some do tradicional ‘prato feito’ em Belo Horizonte

Preços nas alturas afasta a carne de boi dos pratos nos restaurantes da capital. Preço do prato feito variou 336% “AGORA É PEIXE E FRANGO”

O bife de boi já foi o mais consumido no PF, mas anda sumido devido aos altos preços da carne (foto: Gladyston Rodrigues/EM – Belo Horizonte-MG – DA Press/Brasil)

A carne de boi em formato mais apreciado pelo consumidor, bife, anda sumida do mais tradicional cardápio brasileiro, o prato feito (PF). Preços nas alturas são apontados por comerciantes como responsável pela substituição por outros cortes. Até mesmo em restaurantes mais sofisticados, o preço da proteína adquire valores à parte. Tem restaurante a quilo que cobra a mais pela carne bovina no prato montado pelo freguês.

A última pesquisa do Mercado Mineiro e o aplicativo comOferta, apresentada na segunda-feira (4/4), apontou que o PF é vendido entre R$ 15,99 e R$ 48, uma variável de 336%. A refeição combinada registrou um aumento de 1,6% no preço em março.

O marmitex grande apresentou variação de 324% entre fevereiro e março deste ano e os valores de venda estavam entre R$ 10,99 até R$ 46,70. Um encarecimento da marmita de 3% em 30 dias. No marmitex pequeno, a variação foi de 91%, com preços em torno de R$ 12,99 no produto mais barato e R$ 23,99 no mais caro.

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Quando perguntados sobre a constituição do preço cobrado por um prato feito, donos de restaurantes apontam as carnes como principal item no custo ao consumidor. No caso do boi, o valor do quilo é multiplicado por dois.

Diante de preços proibitivos, há casos de comerciantes que determinam a quantidade de carne que cada cliente pode colocar no prato. “Se o produto não for de boa qualidade, o dono não consegue vender, e há muitas reclamações,” observa o economista Feliciano Abreu, do site Mercado Mineiro, que realiza pesquisa semanal de preços em BH e Região Metropolitana.

“É comum ouvir reclamações de marmitex que vem com muito arroz. As pessoas ficam de olho no diferencial, e o dono numa encruzilhada, muita carne de primeira não consegue vender, se for muito ruim o produto final, não encontra comprador”, explica Feliciano.

Abreu aponta certo malabarismo na economia para continuar funcionando, uma vez que o consumidor não vai achar produto de melhor qualidade com preços mais em conta. Além do preço da carne, lembra o economista, é preciso levar em conta os demais itens que estão encarecendo cada vez mais, como óleo, arroz, verduras e legumes, o gás, o transporte.

O setor, além de passar praticamente dois anos fechado, se depara com os valores mais altos em momento de reabertura e com a renda em queda do trabalhador. A renda média do brasileiro ficou em R$ 2.489 no trimestre encerrado em janeiro de 2022, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A população desocupada está em 12 milhões de pessoas.

O valor apurado pela pesquisa nos meses de novembro, dezembro e janeiro de 2022 representa queda de 1,1% em relação ao trimestre encerrado em outubro, e de 9,7% frente ao trimestre finalizado em janeiro de 2021. Nenhuma categoria apresentou alta no rendimento durante a realização do levantamento.

Celso Consolação, dono do Café do Táxi, na Cidade Industrial, em Contagem, cobra um acréscimo de R$ 2 para quem exige o PF com bife de boi. Ele oferece alternativas com preço fixo de R$ 15 o prato, para outras carnes, como bovina cozida, frango frito, assado ou cozido.

O restaurante funciona diariamente de 6 às 22h, “servimos almoço e jantar entre 10h30 e 22h, antes da pandemia funcionávamos 24h, mas movimento caiu muito, há muita concorrência, muitos ficaram desempregados e resolveram abrir restaurantes.”

O comerciante diz que paga, em média, R$ 5 mil por mês pelas carnes adquiridas no açougue. “Compro a prazo para dar conta de compor meu cardápio.” Na sexta-feira, principalmente por tratar-se de quaresma, tem a opção de peixe. “Mas as pessoas não estão muito ligadas a questões religiosas.”

“Agora é carne cozida, peixe, frango”

Dondo do tradicional restaurante Mineirinho II, Daniel Carlos aboliu o bife de boi do PF servido na casa(foto: Gladyston Rodrigues/EM – Belo Horizonte-MG – DA Press/Brasil)

Daniel Carlos Amaral Almeida. Dono do Restaurantes Mineirinho II, um dos mais populares e tradicionais do centro da capital, aboliu o bife de boi de seu cardápio.

“Bife de boi tem que ser uma carne de qualidade e não consigo repassar o valor ao cliente. Até tentei, mas o preço muito alto e as reclamações dos clientes me fizeram decidir tirar do cardápio. Agora é carne cozida, peixe, frango. Estou há 16 anos no mercado, primeira vez que vejo crise nessas dimensões. Veio a pandemia, e quando reabriu, vieram os preços altíssimos dos alimentos, nunca tinha visto isso, tenho 40 anos de idade e nunca tinha visto.”

O restaurante serve em torno de 150 PFs por dia. “Muito aquém do que vendíamos antes da pandemia”, atesta.

Giovani serve bife de boi duas vezes por semana, mas trocou alcatra por chã de dentro (foto: Gladyston Rodrigues/EM – Belo Horizonte-MG – DA Press/Brasil)

No Restaurante Cheiro e Sabor, no Barro Preto, o proprietário Giovani Alves Farias, 45 anos, que há 16, serve somente PF, todos os dias de segunda a segunda, entre 10h30 e 18h, optou por não cortar o bife de boi, que oferece duas vezes por semana.

A alternativa, de acordo com o comerciante, foi trocar o corte, por chã de dentro “contra filé e alcatra, os preços pesam muito, mais de R$ 37 o quilo, muito caro. Vendo na faixa de 200 a 250 pratos diários.”

Feliciano Abreu aponta alternativas que alguns estão levando em consideração para baratear o preço do PF, “o ovo por exemplo.”

Fonte: Estado de Minas

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