Aumento da produção da cafeicultura na Bahia tem relação com investimento público
Neste domingo, 14 de abril, o mundo celebra o Dia Internacional do Café. E a Bahia tem muito a comemorar. É um dos poucos estados do Brasil que possui uma produção significativa das duas principais espécies conhecidas no mundo — a arábica e a conilon — e essa produtividade tende a crescer em 2024.
A produção de café conilon na Bahia está concentrada em quatro microrregiões do estado: Baixo Sul, Litoral Sul, Costa do Descobrimento e Extremo Sul. Essa variedade possui, como principais características, a rusticidade e um maior teor de cafeína. Ele é mais voltado para a grande indústria brasileira, sendo também mais barato no mercado cafeicultor.
O torrefador Flávio Camargos, especialista em cafés, explicou as características da espécie, durante entrevista ao Portal A TARDE. Segundo ele, apesar da utilização do conilon ser mais comum no café do dia-a-dia, adquirido nos supermercados das grandes cidades, esse tipo também já vem sendo utilizado na produção de cafés especiais.
“O conilon tem uma tendência a dar um café com notas achocolatadas, amadeiradas, e com muito corpo. Um sinônimo de qualidade dele é a presença de notas de especiarias, como cravo. Mas o mais marcante é que, em média, ele tem um teor de cafeína maior que os demais tipos, variando de 1,8% a 2,5%”, explicou Camargos.
“O que a gente observa é que existem muitos produtores hoje que estão se especializando em fazer cafés especiais com conilon. A chave dos produtos está começando a virar. Ainda é o mais consumido nos mercados tradicionais, mas tem uma tendência de evolução, com novos processos”, complementou o torrefador.
Já o café do tipo arábica, mais conhecido, se divide entre duas grandes regiões da Bahia: o Planalto, que envolve as microrregiões da Chapada Diamantina, Vitória da Conquista e Brejões; e o Cerrado, com lavouras significativas em Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, São Desidério e Cocos. Essa espécie é tida como mais nobre e, por isso, tende a ser mais cara.
Para Flávio Camargos, apesar dos avanços na produção do conilon, o café do tipo arábica — que é a sua especialidade — costuma ter uma qualidade maior.
“Em regra, não tem como a gente comparar arábica com conilon em questão sensorial. A maioria dos cafés especiais hoje é da espécie arábica. Ele já tem uma acidez mais refinada, sendo mais comum ter notas mais florais e mais frutadas. Ao mesmo tempo, o teor de cafeína é menor, de 0,8% a 1,2%”, avaliou Camargos.
Produção crescente
A expectativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de um crescimento de 6,4% na produção na Bahia em 2024, chegando a 3,61 milhão de sacas, sendo 1,22 milhão de café da espécie arábica e outros 2,39 milhões de café conilon.
Essa previsão de alta é atribuída, conforme avaliação da própria Conab, à chamada “bienalidade positiva” — quando o ano é mais favorável à plantação — e ao maior investimento no estado em tecnologia produtiva. O crescimento, por outro lado, só não deve ser ainda maior devido a uma previsão de chuvas abaixo da média em 2024.
Esses resultados da Bahia são considerados significativos a nível nacional. Ainda segundo a Conab, o estado é um dos principais produtores de café do Brasil, tendo grande produção das duas principais espécies.
De toda a área produtiva de café arábica no Brasil, 4% fica na Bahia, o que corresponde a 57,5 mil hectares plantados. Nesse critério, o estado fica atrás apenas de Minas Gerais (1,359 milhão de ha), São Paulo (186,1 mil ha) e Espírito Santo (128,4 mil ha). Os outros estados brasileiros somam 45,9 mil hectares de cafeicultura da espécie arábica.
A Bahia também se destaca na área plantada de café da espécie conilon, com 46,5 mil hectares de produção. Nesse tipo de cafeicultura, o estado só fica atrás do Espírito Santo e de Rondônia, com 292 mil e 67,7 mil hectares, respectivamente. Os demais estados brasileiros somados têm 24,2 mil ha de plantação.
Investimento público
Parte desse avanço na produção baiana tem relação com o aumento dos investimentos do governo do estado. Nos últimos anos, a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) — empresa pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) — investiu, através do programa Bahia Produtiva, R$ 33,8 milhões na cafeicultura familiar.
Parte desses investimentos é voltada para a tecnologia agrícola, citada pela Conab como um dos motivos do aumento previsto na produção de café da Bahia.
“São investimentos que visam apoiar agricultores e agricultoras tanto na base produtiva, por meio da disponibilização de novas tecnologias como despolpamento do fruto, secagem em estufas apropriadas e Assistência Técnica e Extensão Rural, quanto na estruturação de um parque industrial capaz de armazenar grandes quantidades de produto nas safras e processá-los sem necessidade de terceiros. E, para garantir a qualidade dos produtos, os empreendimentos apoiados contam ainda com laboratório de classificação sensorial”, explicou a SDR, em mensagem encaminhada ao Portal A TARDE.
Além dos investimentos em tecnologia, o programa Bahia Produtiva oferece também recursos para a capacitação dos produtores; a certificação dos produtos; a diversificação dos tipos de café; a melhoria da infraestrutura e da logística; e o fortalecimento de cooperativas e associações.
Como exemplos dos resultados obtidos através dos investimentos públicos, a SDR citou os casos da Cooperativa Mista dos Pequenos Cafeicultores de Barra do Choça e Região (Cooperbac), no sudoeste da Bahia, que garante renda para até 9 mil baianos; e da Cooperativa de Cafés Especiais e Agropecuária de Piatã (Coopiatã), na Chapada Diamantina, que foi premiada com a “Cup of Excellence”, promovida pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).
“Essas ações têm o potencial de fortalecer toda a cadeia produtiva do café, desde qualificar os produtores com técnicas para aumentar a produção e diminuir custos até melhorar a qualidade do produto para os consumidores finais”, acrescentou a SDR.
O torrefador Flávio Camargos, que acompanha o trabalho da Coopiatã, reforçou que o trabalho realizado pelo governo da Bahia tem sido fundamental para o avanço da produção de café no estado. Segundo ele, as demais associações cafeicultoras precisam ser alertadas da disponibilidade da gestão estadual em ajudar.
“A atividade estatal é muito importante para essa produção. Eu acompanho de perto lá na Chapada e, se não fosse a ajuda do estado, eles não estariam com a estrutura que têm hoje. As demais cooperativas precisam ter conhecimento de que o estado está disposto a ajudar. É o que eu tenho visto”, apontou o especialista.
Neste domingo, 14 de abril, o mundo celebra o Dia Internacional do Café. E a Bahia tem muito a comemorar. É um dos poucos estados do Brasil que possui uma produção significativa das duas principais espécies conhecidas no mundo — a arábica e a conilon — e essa produtividade tende a crescer em 2024.
A produção de café conilon na Bahia está concentrada em quatro microrregiões do estado: Baixo Sul, Litoral Sul, Costa do Descobrimento e Extremo Sul. Essa variedade possui, como principais características, a rusticidade e um maior teor de cafeína. Ele é mais voltado para a grande indústria brasileira, sendo também mais barato no mercado cafeicultor.
O torrefador Flávio Camargos, especialista em cafés, explicou as características da espécie, durante entrevista ao Portal A TARDE. Segundo ele, apesar da utilização do conilon ser mais comum no café do dia-a-dia, adquirido nos supermercados das grandes cidades, esse tipo também já vem sendo utilizado na produção de cafés especiais.
“O conilon tem uma tendência a dar um café com notas achocolatadas, amadeiradas, e com muito corpo. Um sinônimo de qualidade dele é a presença de notas de especiarias, como cravo. Mas o mais marcante é que, em média, ele tem um teor de cafeína maior que os demais tipos, variando de 1,8% a 2,5%”, explicou Camargos.
“O que a gente observa é que existem muitos produtores hoje que estão se especializando em fazer cafés especiais com conilon. A chave dos produtos está começando a virar. Ainda é o mais consumido nos mercados tradicionais, mas tem uma tendência de evolução, com novos processos”, complementou o torrefador.
Já o café do tipo arábica, mais conhecido, se divide entre duas grandes regiões da Bahia: o Planalto, que envolve as microrregiões da Chapada Diamantina, Vitória da Conquista e Brejões; e o Cerrado, com lavouras significativas em Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, São Desidério e Cocos. Essa espécie é tida como mais nobre e, por isso, tende a ser mais cara.
Para Flávio Camargos, apesar dos avanços na produção do conilon, o café do tipo arábica — que é a sua especialidade — costuma ter uma qualidade maior.
“Em regra, não tem como a gente comparar arábica com conilon em questão sensorial. A maioria dos cafés especiais hoje é da espécie arábica. Ele já tem uma acidez mais refinada, sendo mais comum ter notas mais florais e mais frutadas. Ao mesmo tempo, o teor de cafeína é menor, de 0,8% a 1,2%”, avaliou Camargos.
Produção crescente
A expectativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de um crescimento de 6,4% na produção na Bahia em 2024, chegando a 3,61 milhão de sacas, sendo 1,22 milhão de café da espécie arábica e outros 2,39 milhões de café conilon.
Essa previsão de alta é atribuída, conforme avaliação da própria Conab, à chamada “bienalidade positiva” — quando o ano é mais favorável à plantação — e ao maior investimento no estado em tecnologia produtiva. O crescimento, por outro lado, só não deve ser ainda maior devido a uma previsão de chuvas abaixo da média em 2024.
Esses resultados da Bahia são considerados significativos a nível nacional. Ainda segundo a Conab, o estado é um dos principais produtores de café do Brasil, tendo grande produção das duas principais espécies.
De toda a área produtiva de café arábica no Brasil, 4% fica na Bahia, o que corresponde a 57,5 mil hectares plantados. Nesse critério, o estado fica atrás apenas de Minas Gerais (1,359 milhão de ha), São Paulo (186,1 mil ha) e Espírito Santo (128,4 mil ha). Os outros estados brasileiros somam 45,9 mil hectares de cafeicultura da espécie arábica.
A Bahia também se destaca na área plantada de café da espécie conilon, com 46,5 mil hectares de produção. Nesse tipo de cafeicultura, o estado só fica atrás do Espírito Santo e de Rondônia, com 292 mil e 67,7 mil hectares, respectivamente. Os demais estados brasileiros somados têm 24,2 mil ha de plantação.
Investimento público
Parte desse avanço na produção baiana tem relação com o aumento dos investimentos do governo do estado. Nos últimos anos, a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) — empresa pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) — investiu, através do programa Bahia Produtiva, R$ 33,8 milhões na cafeicultura familiar.
Parte desses investimentos é voltada para a tecnologia agrícola, citada pela Conab como um dos motivos do aumento previsto na produção de café da Bahia.
“São investimentos que visam apoiar agricultores e agricultoras tanto na base produtiva, por meio da disponibilização de novas tecnologias como despolpamento do fruto, secagem em estufas apropriadas e Assistência Técnica e Extensão Rural, quanto na estruturação de um parque industrial capaz de armazenar grandes quantidades de produto nas safras e processá-los sem necessidade de terceiros. E, para garantir a qualidade dos produtos, os empreendimentos apoiados contam ainda com laboratório de classificação sensorial”, explicou a SDR, em mensagem encaminhada ao Portal A TARDE.
Além dos investimentos em tecnologia, o programa Bahia Produtiva oferece também recursos para a capacitação dos produtores; a certificação dos produtos; a diversificação dos tipos de café; a melhoria da infraestrutura e da logística; e o fortalecimento de cooperativas e associações.
Como exemplos dos resultados obtidos através dos investimentos públicos, a SDR citou os casos da Cooperativa Mista dos Pequenos Cafeicultores de Barra do Choça e Região (Cooperbac), no sudoeste da Bahia, que garante renda para até 9 mil baianos; e da Cooperativa de Cafés Especiais e Agropecuária de Piatã (Coopiatã), na Chapada Diamantina, que foi premiada com a “Cup of Excellence”, promovida pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).
“Essas ações têm o potencial de fortalecer toda a cadeia produtiva do café, desde qualificar os produtores com técnicas para aumentar a produção e diminuir custos até melhorar a qualidade do produto para os consumidores finais”, acrescentou a SDR.
O torrefador Flávio Camargos, que acompanha o trabalho da Coopiatã, reforçou que o trabalho realizado pelo governo da Bahia tem sido fundamental para o avanço da produção de café no estado. Segundo ele, as demais associações cafeicultoras precisam ser alertadas da disponibilidade da gestão estadual em ajudar.
“A atividade estatal é muito importante para essa produção. Eu acompanho de perto lá na Chapada e, se não fosse a ajuda do estado, eles não estariam com a estrutura que têm hoje. As demais cooperativas precisam ter conhecimento de que o estado está disposto a ajudar. É o que eu tenho visto”, apontou o especialista.