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Censo: Vagas de emprego e custo de vida são atrativos no interior

Qualidade, custo de vida e mais chances de trabalho tem atraído pessoas da capital para o interior

Catolândia é um dos municípios de destaque – Foto: Divulgação

Embora Salvador tenha sofrido uma queda populacional considerável (-9,6%), a Bahia como um todo registrou crescimento no Censo de 2022. Nesta segunda reportagem da série sobre os dados iniciais divulgados do Censo 2022, A TARDE destaca cidades para além da capital baiana e Região Metropolitana, indo de Vitória da Conquista (a terceira maior cidade da Bahia) e Catolândia (a menor cidade), até Luís Eduardo Magalhães, que entrou para o top 20 das cidades que mais cresceram no Brasil.

“Aqui não falta emprego, não falta dinheiro. Luís Eduardo continuou se movimentando mesmo durante a pandemia, por exemplo, e isso foi uma das coisas que me cativaram. Hoje, de jeito nenhum penso em voltar a Salvador, que continua sendo um ótimo lugar para passeio, mas que tem um mercado de trabalho bem escasso”, conta a produtora e comunicadora Louise Victória Mauro Issa Leite, que mora desde 2020 em Luís Eduardo Magalhães.

Questão de segurança, família e estrutura – saúde, alimentação, transporte -, lista a produtora, são outros fatores atrativos na cidade. A grande falta, aponta Louise, é o acesso à cultura. “Também tenho saudade das praias, afinal nasci, cresci e me criei na beira do mar”. Um importante pólo agropecuário, a população de Luís Eduardo Magalhães cresceu 79,5% desde o Censo de 2010 e agora faz parte do clube das cidades com mais de 100 mil habitantes.

Outra cidade que teve um crescimento considerável foi Barreiras, que cresceu 16,2% e agora tem a 10ª maior população da Bahia. Foi para ela que o engenheiro civil Vinícius Galvão Cruz se mudou em 2021, após passar em uma seleção pública. “No tempo que passei morando apenas em Barreiras, percebi uma grande diferença na qualidade de vida, em especial pela sensação de segurança e tranquilidade que não sinto na capital. Este ano fui transferido para Salvador, mas passo quase metade do mês viajando a trabalho, principalmente para o oeste do estado”, conta o engenheiro.

Coordenador de pesquisas sociopopulacionais da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Rodrigo Barbosa de Cerqueira aponta que estes e outros municípios parecem ter absorvido parte do fluxo migratório saindo da capital e de cidades vizinhas. “Mas ainda precisamos de mais informações para entender melhor o movimento populacional na última década no Estado. Um grande desafio que os gestores públicos terão que se debruçar nos próximos dias, meses e anos”, afirma.

Outras cidades

Entre as 404 cidades fora do grupo Salvador e Região Metropolitana, Vitória da Conquista é a mais populosa, com 370.868 habitantes – o Censo 2022 mostra que ela cresceu 21,1% -, e é nela que o contador Ericsson Lemos Cardoso mora desde 2020. A mudança foi por oportunidade de trabalho, mas a qualidade e o custo de vida que o contador encontrou em Conquista tem feito ele tirar de cogitação, pelo menos por enquanto, voltar a Salvador.

“Acabo gastando um pouco mais por morar sozinho, entretanto, o mesmo tipo de casa e bairro em Salvador fariam esse custo ser bem maior. Aluguel, contas, alimentação, mercado em geral… Juntando tudo isso, eu gastaria quase o dobro na capital só por causa do aluguel. Além disso, por ser uma cidade menor, o trânsito é mais tranquilo e as viagens mais curtas, consigo atravessar Conquista em uns 15 minutos”, conta Ericsson.

No outro extremo temos Catolândia, a menor cidade da Bahia: 3.434 habitantes de acordo com o Censo 2022, um crescimento de +4,1% desde 2010. “Uma das grandes vantagens de morar em uma cidade do tamanho de Catolândia é a tranquilidade, a segurança e a hospitalidade. Em compensação, faltam opções de lazer, oportunidades de trabalho e ensino superior para os jovens, e acesso a serviços de saúde especializados, pois só temos o básico”, conta a professora de matemática Leandra de Almeida Porto, que nasceu em Barreiras, mas sempre morou no povoado de Cabeceira, em Catolândia.

O que esses dados já divulgados realmente mostram, salienta o mestre e doutor em geografia, Clímaco César Siqueira Dias, docente da Universidade Federal da Bahia (UFBA), é que, apesar do crescimento em algumas cidades, não houve um grande aumento populacional no estado como um todo, pois a população da Bahia só cresceu 0,8%. “Um crescimento total perto da estagnação”, aponta.

Cidades como Luís Eduardo Magalhães e seu crescimento de quase 80% são realmente um caso à parte, pois demonstra um crescimento anual de 6%, ou mesmo Porto Seguro, que cresceu 32,6%, o que dá um crescimento razoável por ano. “Mas não houve um grande vigor no crescimento na maioria das cidades, mesmo aquelas com saldo positivo. Santo Antônio de Jesus cresceu 13,1%, Teixeira de Freitas 4,9%… Quando dividimos isso em 12 anos, não é muita coisa”, explica o professor.

Porém, uma cidade que perde a população não é necessariamente ruim de viver, salienta a Supervisora de Disseminação de Informações do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros, ou mesmo significa que ela tem problemas muito sérios. “São cidades que oferecem atrativos que fazem as pessoas se movimentarem para buscar ali uma vida melhor, pois é a necessidade de algo que atrai a população. E quando essa pessoa se muda, ela vai se deparar com outros desafios, seja de infraestrutura, organização urbana ou mesmo segurança, mas a esperança é essa: ter uma vida melhor”, explica.

Catolândia

Localizado na região Oeste do Estado da Bahia – a 888 km de Salvador e 25 km de Barreiras -, Catolândia é o menor município do estado, com 3.434 habitantes (Censo 2022). Apesar de pequena, a população é bastante acolhedora e a cidade promove algumas comemorações que agitam a região, como os festejos para Nossa Senhora da Penha (Padroeira de Catolândia) e o festejo do Divino Espírito Santo, além de cavalgadas, campeonatos de futebol, rally feminino de motocicleta e a Micaretolândia, que acontece no final deste mês.

“Morei em Catolândia até os meus 10 anos, quando toda a minha família se mudou para Barreiras. Hoje eu estou com 40, tem cerca de seis anos que voltei e uma verdade sobre Catolândia permanece desde a minha infância: ela é uma cidade muito tranquila”, diz a professora de história, Luciana Rodrigues de Souza, que completa: “As crianças ficam jogando bola na rua, mães mandam os filhos sozinhos para comprar pão ou ir para a escola sem preocupação, e esse tipo de coisa. A grande desvantagem daqui é a necessidade de viajar até cidades vizinhas para ter acesso a algumas coisas”.

Agropecuária – A base da economia de Catolândia é a atividade agropecuária de subsistência (minifúndios e familiar), centrada nas culturas de mandioca, banana, milho, cana-de-açúcar, hortaliças e na criação de bovinos. O comércio local, no entanto, é enfraquecido, afirma a pedagoga e professora Maria Rita Nascimento da Silva Ribeiro, que mora em Catolândia desde 1981, quando foi aprovada em um concurso público. 

“A cidade é tranquila e o povo é hospitaleiro, mas a principal fonte de emprego é a prefeitura. Falta lazer e o acesso a alguns serviços de saúde e educação é difícil, pois só temos o básico”, lamenta.

Baianos que aproveitam o melhor das cidades baianas

Com 72 anos, a aposentada Raimunda Gonçalves Souza tem circulado por quatro cidades baianas nos últimos anos. Natural de Ilhéus, onde ela oficialmente mora atualmente, ela costuma viajar para Salvador para ver amigos e familiares. Em outros momentos, ela passa um tempo em Subaúma (localidade que pertence a Entre Rios, na Costa do Coqueiro) com as irmãs, também aposentadas. E quando não está em nenhuma dessas três cidades, ela corre para Porto Seguro, onde está um de seus filhos, nova e neto.

“Cada uma dessas cidades tem seus atrativos. Subaúma, por exemplo, é uma cidade de muita paz, diferente de Salvador que, na minha concepção, a gente não vive, vegeta e se esconde dentro de casa com medo da violência, ainda que tenha de um tudo, o que é uma vantagem. Continuo viajando entre essas cidades, mas o meu desejo mesmo é ter uma casa em Porto Seguro e ficar lá até deixar esse mundo. Eu me apaixonei pela tranquilidade e pela beleza de Porto”, conta a aposentada.

Já no caso do contador Remy de Launay, mesmo já tendo passado por algumas cidades, ele e a família ainda não têm um lugar definitivo em mente para fincar as raízes. “Em princípio, todo lugar é definitivo até que a gente encontre algo melhor”, afirma. E em cada cidade que passam, eles sempre pensam nos pontos positivos de morar ali: em Salvador é o fácil acesso ao mar, na Chapada Diamantina são as cachoeiras e trilhas, e em Simões Filho a Mata Atlântica.

“O nosso desejo permanece sendo, com a garantia de uma estrutura para nossa família, sempre ficar perto da natureza sem abrir mão de estar relativamente perto da família. Tanto que, as maiores vantagens para nós em cada um dos lugares que moramos é o aspecto da natureza neles, é o que nos atrai. Recentemente tivemos que retornar a Salvador para que nosso filho, Davi, de 1 ano e 7 meses, tivesse mais contato com outras crianças, mas já estamos pensando onde vamos ‘morar’ nas próximas férias”, explica o contador.

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