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Banco não precisa de juro alto para ter lucro, diz presidente da Febraban

Em meio ao debate sobre os juros no Brasil, o presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney, disse neste sábado (4) que as instituições bancárias defendem a queda das taxas, mas querem o barateamento do custo do crédito.

“É muito caro tomar crédito. Os bancos não precisam de juros altos para ter lucros. Temos de ter uma agenda para baratear o custo do crédito. As taxas de juros precisam cair, mas o crédito é muito tributado. Os bancos defendem ampliar a oferta de crédito”, afirmou em conferência do Lide, organização do ex-governador paulista João Doria, em Lisboa.

As taxas de juros viraram alvo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta semana, após o Banco Central manter em 13,75% a Selic (índice básico da economia). O petista questionou não só a taxa, mas também a autonomia legal do BC, estabelecida no governo de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).

O que Lula não discutiu foi o fato de que as taxas refletem a antecipação da inflação, cujo risco de descontrole decorre da situação fiscal brasileira –delicada dada a disposição do novo governo de gastar mais, como a PEC da Gastança durante a transição de governo e a defesa do fim do teto de gastos sugerem.

Sidney, contudo, disse que os bancos “vão continuar a trabalhar pela governabilidade”, citando o apoio aos manifestos pela democracia em 2022 e a condenação da violência golpista de bolsonaristas no dia 8 de janeiro.

“Quando o presidente [Lula] foi eleito, o cumprimentamos. Isso é alinhamento? Não, é responsabilidade. Tenho visto disposição do governo para dialogar, mas o diálogo não basta”, afirmou.

“Deveríamos estar cansados de tantos diagnósticos e análises. É constrangedor, todos sabemos o que fazer e, principalmente, o que não fazer. O Brasil, ano após ano, segue patinando, crescemos de forma medíocre”, disse ele, ao defender as reformas tributária e administrativa.

Falando remotamente em nome do governo Lula, a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), disse que a reforma tributária, a nova âncora fiscal no lugar do teto de gastos e um novo plano plurianual são suas prioridades.

“O Brasil passou os últimos anos em uma tormenta institucional, sanitária, com um timoneiro sem carta náutica”, disse, criticando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “O processo eleitoral trouxe de volta um democrata e, depois da barbárie, vivemos numa democracia”, disse, lamentando os ataques golpistas do dia 8 de janeiro.

Questionada sobre as diferenças de opinião com o PT no governo, Tebet afirmou: “Vou receber cartões amarelos, quando for receber o vermelho, falo com o presidente”. Ela voltou a falar sobre a surpresa da escolha de Lula, já que ela pleiteava uma pasta na área social.

Presente em Lisboa, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), reeleito em 2022, defendeu que “a eleição acabou” e pediu harmonia entre governos estadual e federal.

O presidente do Conselho de Administração da Península Participações, Abílio Diniz, fez uma defesa indireta da queda dos juros. “Ainda há um certo receio do BC para baixar juros, mas inflação está dominada”, afirmou.

Também falando em Lisboa, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, afirmou que o “o setor bancário é um fator de estabilidade e um bônus de solvência” para o país. “Nós, empresários, não somos meros espectadores, somos protagonistas, temos uma dívida social”, disse. Ele considera que as turbulências do processo democrático e a crise dos yanomamis provam que há “desafios para construir o Brasil”.

Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, por sua vez, evitou falar sobre os juros que afetam diretamente o crédito do varejo –ou ainda acerca da crise de sua rival Americanas, que ameaça o balanço de bancos credores, levando a dúvidas acerca das condições de empréstimo dele.

Questionado, Sidney repetiu nota divulgada nesta semana pela Febraban criticando a disposição dos acionistas da Americanas de rejeitar ações judiciais para tentar elucidar o rombo de R$ 20 bilhões na empresa. Ele lembrou que “os bancos credores têm uma exposição de R$ 25 bilhões”.

Na abertura da conferência, Raimundo Carreiro, embaixador do Brasil em Portugal, disse em discurso que o acordo comercial Mercosul-União Europeia vai “demorar muito tempo” para ser ratificado. O presidente Lula havia dito nesta semana, após reunião com o premiê alemão, Olaf Scholz, que esperava ver o acerto neste semestre.

O jornalista Igor Gielow viaja a convite do Lide.

Igor Gielow/Folhapress

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