Com o poder de digitalizar os processos, a internet é responsável pelo o que alguns estudiosos chamam de a 4º revolução industrial, na qual novas tecnologias fundem o mundo físico, digital e biológico. Trazendo esta realidade para a Bahia, o professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), Jauberth Abijaude, aplica um sistema baseado em Internet das Coisas para otimizar a produção do cacau, uma das maiores riquezas do estado. O intuito é montar uma cadeia de monitoramento, a fim de avaliar os processos do fruto com foco nas fases de fermentação e secagem das amêndoas, período no qual se desenvolvem características fundamentais do cacau gourmet.
Jauberth explica que o conceito de internet das coisas veio para facilitar tarefas do cotidiano que passam a ser realizadas com o auxílio de sensores e atuadores. “A tecnologia cria uma rede de objetos inteligentes que reúne e transmite dados para otimizar a vida das pessoas. O uso da Blockchain e dos contratos inteligentes adiciona uma camada de segurança nos dados coletados pelos sensores. A inspiração de trazer esta realidade virtual para o mundo do cacau veio do anseio de valorizar o fruto, que é uma joia baiana. Eu e meu grupo de pesquisadores buscamos também driblar o declínio na produção causado por infestações como a Vassoura de Bruxa, fungo que atingiu a produção brasileira de cacau no final dos anos 1980”, contou o pesquisador.
O novo sistema é composto de microcontroladores programáveis e um aplicativo capaz de monitorar e registrar atributos como temperatura, umidade, pH, além de acionar fontes de calor ou resfriamento. Ele funciona da seguinte maneira: a plataforma acompanha e intervém no processo que é monitorado de forma online ou automática, configurando agendas e gatilhos para manter a fermentação dentro de parâmetros desejados. Assim, a evolução do fruto é mensurada e possíveis danos na plantação podem ser evitados previamente com os dados coletados.
De acordo com o pesquisador, a inovação do sistema está em acompanhar e interferir no processo de fermentação em tempo de execução, capturando os dados e enviando-os para os contratos eletrônicos hospedados na Blockchain. “Isto permite que as informações capturadas possam ser auditadas sem a necessidade de um terceiro elemento de confiança”, ressaltou.
A primeira versão do protótipo já foi testada e o software está em processo de atualização para funcionar em fazendas que não possuem internet. O projeto ganhou reconhecimento internacional e será apresentado em um congresso sediado no Brasil, especificamente em Salvador, chamado Latin-American Conference on Communications (LATINCOM 2019), considerada a maior conferência sobre comunicações da América Latina. O pesquisador vislumbra que, no futuro, a indústria do cacau terá mais dados e conhecimentos sobre a produção e poderá melhorar ainda mais a qualidade do alimento.
O trabalho foi realizado em colaboração com os professores Fabíola Greve, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Juliana Torres, do Instituto Federal Baiano (IF Baiano), além de Péricles Sobreira e Omar Wahab, ambos da Universidade de Québec (UOQ), no Canadá. A orientação do projeto ficou a cargo de Ítalo Pinto da Uesc e Cristian Zubieta da UOQ. A Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb) também apoiou a iniciativa, através dos pesquisadores Henrique Serra e Isaac Allef, da Uesc. Estudantes de graduação e pós-graduação de outras universidades como Uesc, Ufba e IF Baiano também participaram. Foram eles: Levy Santiag, Hellan Vianna, Noberto Hess, e Lucas Arléo, e os voluntários João Victor Rupp e Pablo Carvalho.
Bahia Faz Ciência
A Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e a Fapesb estrearam, no dia 8 de julho, o Bahia Faz Ciência, uma série de reportagens sobre como pesquisadores e cientistas baianos desenvolvem trabalhos em ciência, tecnologia e inovação de forma a contribuir com a melhoria de vida da população em temas importantes como saúde, educação, segurança, dentre outros. As matérias serão divulgadas semanalmente, sempre às segundas-feiras, para a mídia baiana, e estarão disponíveis no site e redes sociais da Secretaria. Se você conhece algum assunto que poderia virar pauta deste projeto, as recomendações podem ser feitas através do e-mail comunicacao.secti@secti.ba.gov.br.