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Celulares dão força a novo mercado de audiolivros no Brasil

Nos Estados Unidos, o segmento de audiolivros é um dos que mais crescem no mercado editorial

CAROLINA MUNIZ (FOLHAPRESS) – Ainda pequeno, o mercado de livros narrados começa a crescer no Brasil com a chegada de gigantes do setor. Em julho do ano passado, o Google Play lançou seu serviço de audiolivros no país. Já a Amazon prepara há pelo menos dois anos a entrada da sua plataforma, o Audible.

A Ubook e a Tocalivros, startups nacionais que investem nesse nicho desde 2014, veem a vinda dessas empresas como uma oportunidade de expansão, não como ameaça.

“Precisamos de marcas com relevância para nos ajudar a construir esse segmento no Brasil”, afirma Flávio Osso, 39, diretor-executivo da Ubook. “As editoras estão vendo que, se o Google entrou nesse mercado, é porque ele existe e funciona”, diz Ricardo Camps, 30, sócio da Tocalivros.

As duas startups, aliás, já trabalham em parceria com o Google Play, disponibilizando suas obras na plataforma.

Nos Estados Unidos, o segmento de audiolivros é um dos que mais crescem no mercado editorial. Em 2017, seu faturamento chegou a US$ 2,5 bilhões (R$ 9,4 bilhões), um aumento de quase 23% em comparação a 2016, de acordo com os dados mais recentes da associação do setor (Audio Publishers Association).

A explicação para o rápido crescimento nos últimos anos não está no formato em si, que não é nenhuma novidade.

Já em 1878, Thomas Edison (1847-1931) apostava que seu invento, o fonógrafo -primeiro aparelho capaz de gravar e reproduzir sons-, seria usado para que pessoas cegas ou até mesmo muito atarefadas pudessem escutar livros.

Muitas obras foram narradas em fitas cassete e CDs, mas, além do alto custo de produção e distribuição, essas plataformas não vingaram em razão da falta de praticidade na “leitura” -com exceção da Bíblia narrada por Cid Moreira, que vendeu mais de 50 milhões de CDs.

Foram os smartphones que impulsionaram de vez o mercado de audiolivros. Hoje, é possível ouvir obras inteiras dirigindo até o trabalho, lavando a louça ou correndo na esteira. E isso beneficia principalmente aqueles que gostariam de ler, mas não têm tempo.

“Eu só conseguia ler um livro por ano. Então, comecei a pegar gosto por escutá-los. Em dois anos, já tinha ouvido uns 40 títulos em inglês, alemão e francês”, diz Ricardo Camps.

A partir da própria experiência, o administrador se deu conta de que faltava no Brasil uma plataforma online que oferecesse audiolivros em português. Sem nunca ter atuado no mercado editorial, fundou em 2014 a Tocalivros com o irmão, o engenheiro de produção Marcelo Camps, 33.

Em parceria com as editoras, a empresa produz de 10 a 15 audiolivros por mês e os disponibiliza em seu aplicativo -que começou com 70 títulos e, hoje, tem mais de 1.500.

Os usuários podem comprar as obras de forma avulsa ou por meio de assinaturas. O plano mais contratado é o ilimitado, pelo qual é possível acessar todo o acervo por R$ 19,90 ao mês.

O maior desafio é conseguir ampliar o catálogo oferecido aos cerca de 3.000 assinantes. O entrave são os altos custos de produção -em torno de R$ 10 mil por audiolivro.

Um título demora, em média, dois meses para ficar pronto e envolve profissionais de narração, edição, revisão, mixagem e masterização. “É uma criação inteira, não é só colocar um narrador no estúdio”, diz Ricardo.

Escolhido de acordo com a obra, o locutor conta com uma direção artística, importante para que a leitura não fique monótona. Além disso, o profissional grava três horas por dia, para não forçar a voz.

“É um investimento grande, por isso as editoras estão levando mais tempo para construir um catálogo de audiolivros”, afirma Marcos da Veiga Pereira, presidente do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) e sócio da editora Sextante.

“A crise das livrarias tem um impacto grande nisso, porque diminui bastante o caixa das empresas. No momento em que precisávamos investir em uma nova área, temos uma limitação”, completa.

Ele se refere às dificuldades enfrentadas pelas redes de livrarias Saraiva e Cultura, responsáveis por 40% do faturamento das principais editoras do país. No ano passado, as duas empresas entraram em recuperação judicial.

Mas Flávio Osso, da Ubook, reforça que a crise também mostrou às editoras a necessidade de buscar fontes alternativas de receita. “Elas estão abrindo a mente para ver que o livro digital não representa uma competição. Pelo contrário, ele reforça e ajuda na venda do físico”, diz.

Hoje, a Ubook se apresenta como o maior aplicativo de audiolivros por streaming da América Latina. Seu modelo de assinatura é inspirado no da Netflix: os usuários pagam um valor mensal (R$ 29,90) e têm acesso a todo conteúdo da plataforma -que, além de livros falados, tem ebooks. A startup também investe em produções originais.

Há ainda um outro plano em que o assinante paga a mensalidade de R$ 49,90 e recebe um livro físico por mês em casa.

Com 3,5 mil títulos em português e 12 mil em outras 18 línguas, a empresa começou a expandir suas operações para outros países em 2018. Hoje, atua no México, na Colômbia, no Chile e na Espanha. Até o fim de março, a previsão é que a plataforma esteja em 18 países.

Até o momento, o Ubook já recebeu cerca de R$ 8 milhões de aportes de investidores. O mais recente, em 2017, foi de 3,2 milhões, do fundo de investimentos Cypress M3. Em 2015, a startup já havia recebido recursos do fundo Koolen & Partners, liderado pelo holandês Kees Koolen, ex-presidente da Booking.com.

Com sete estúdios próprios, a empresa produz entre 50 e 60 audiolivros por mês. Segundo Flávio, a plataforma tem 6 milhões de usuários, número que inclui assinantes e pessoas que estão cadastradas, mas que não necessariamente usam o serviço.

A Ubook não revela faturamento, mas Flávio diz que está no patamar de oito dígitos. Com informações da Folhapress.

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